Você já ouviu falar em educação antirracista? Mais do que um modelo, ela propõe uma mudança de percepção, de lógica e de posturas nos ambientes de ensino, de modo a torná-los mais acolhedores, diversos, justos, representativos e equânimes!
A desigualdade e a exclusão ainda são, infelizmente, uma realidade na sociedade brasileira. E, como é próprio dos problemas aos quais nomeamos como crônicos ou estruturais, elas estão presentes em todas as instituições sociais, inclusive na escola.
Dessa maneira, muitas crianças e adolescentes negros vivenciam situações de preconceito, discriminação e violência no interior dos espaços escolares. Por outro lado, o mais poderoso instrumento que temos para combater o racismo e outras formas de opressão é a educação.
A educação antirracista é uma prática que envolve uma transformação nos modos de pensar, agir e, principalmente, de se relacionar com a diferença. Por isso, gestores escolares, educadores, familiares e demais envolvidos no processo formativo dos cidadãos do futuro devem assumir um compromisso sempre renovado, de praticá-la e promovê-la, dentro e fora da escola.
Interessou-se em saber mais sobre o que é, qual a importância e como fomentar a educação antirracista nos estabelecimentos de ensino? Então, continue a leitura e confira!
O que é educação antirracista?
O racismo no Brasil é entendido como um problema estrutural e crônico, isto é, permeia, de maneira profunda, todas as esferas da sociedade. A consequência disso é que nossas instituições estão, permanentemente, reconfigurando e reproduzindo a violência, bem como gerando pensamentos e práticas individuais ancorados no preconceito e na discriminação racial.
Em outras palavras, quando se fala em racismo estrutural, busca-se dizer que ele não está propriamente nos sujeitos, mas, sim, nas estruturas que dão base e moldam as relações que travamos uns com os outros. Entre esses espaços de formação de valores de uma dada sociedade, a escola aparece em posição de destaque.
A lei 10.639/96 representou um grande avanço no que diz respeito ao fomento de uma educação antirracista. Isso porque ela instituiu como ensinos obrigatórios: a história e cultura afro-brasileira, a participação dos negros na formação da sociedade e da cultura nacional e a luta do movimento negro no Brasil.
No entanto, a educação antirracista vai muito além do que exige a lei, isto é, ela reivindica não só a alteração dos currículos, mas principalmente uma transformação significativa dos discursos, lógicas, percepções, comportamentos em relação às pessoas negras e aos demais grupos minoritários.
Esse tipo de ensino propõe a valorização da diversidade como um valor enraizado em toda a comunidade escolar. A discussão permanente das questões étnico-raciais, sociais e culturais devem, portanto, constar no projeto político-pedagógico da instituição e tangenciar o curso de todos os componentes curriculares.
Em síntese, a educação antirracista é aquela empenhada no combate ao racismo e demais práticas discriminatórias. Para tanto, deve assumir o compromisso de guiar os alunos na compreensão do lugar social e racial que ocupam na sociedade, no respeito às diferenças e, também, na superação desse sistema causador de desigualdades e exclusões.
Por que ela é tão importante?
Não podemos esquecer que a escola é um espaço de conhecimento, mas também de socialização, de descobertas e de experiências. Em outras palavras, depois da família, ela é a instituição mais importante no que diz respeito à construção da identidade da criança e à forma como ela se relaciona com a coletividade.
Desse modo, assim como ela pode colaborar com a perpetuação do racismo e de outras formas de opressão, também pode agir no sentido inverso, ou seja, contribuir com a desconstrução de preconceitos e visões distorcidas a respeito dos grupos sociais minoritários e suas culturas.
A importância de uma educação antirracista reside na desnaturalização do racismo nas mentes e nos comportamentos dos sujeitos, bem como no reconhecimento da contribuição dos diversos povos na construção da sociedade e cultura brasileira. Somada a isso, a prática propicia o sentimento de pertencimento da comunidade negra em relação ao ambiente escolar e acadêmico.
Mais do que isso, ela oferece instrumentos para a formação de cidadãos mais respeitosos com o outro, conscientes de seu papel e comprometidos com a construção de um Brasil mais justo, diverso e igualitário.
Como promover uma educação antirracista na escola?
Ainda que seja necessário, uma educação antirracista envolve muito mais do que apenas repudiar atitudes e discursos racistas no interior do espaço escolar. Ela exige o delineamento de caminhos práticos para tornar possível uma transformação mais profunda nas relações e no próprio modo de ensinar de uma escola.
Isso significa uma revisão dos currículos, a representação de grupos estigmatizados, a discussão crítica e permanente de temas sociais complexos e muito mais. Veja, abaixo, mais algumas dicas de como implementar uma educação antirracista nos ambientes de ensino.
Equipe escolar qualificada e diversa
A valorização da diversidade começa no setor de recursos humanos. Isso quer dizer que é fundamental que haja contratação de profissionais negros para atuar tanto na sala de aula quanto na gestão escolar.
A presença de sujeitos pertencentes a grupos, em geral, subalternizados, em cargos hierarquicamente superiores colabora na prática antirracista no sentido de fomentar a ideia de representatividade — empoderando os estudantes que com eles se identificam.
Descolonização do currículo
Os materiais didáticos precisam ser revistos de modo a refletirem a diversidade de pensamentos e tradições que compõem a nação brasileira. É fundamental que as diversas narrativas nacionais, inclusive a dos povos indígenas e africanos, estejam neles simbolizadas.
Isso é muito sério, pois as crianças e adolescentes negras se veem continuamente representadas por um passado de sofrimento, violência e escravidão, o que impacta diretamente na sua autoestima e gera sentimento de orgulho de suas próprias histórias.
Transformar a escola em um ambiente de acolhimento e de valorização da diversidade
Durante muito tempo, as pessoas negras se viram apartadas e excluídas dos ambientes de construção de saberes, tais como as escolas e as universidades. E, ainda que hoje tenham acesso, a questão do pertencimento é muito mais complexa.
Para mudar essa realidade, é urgente que as escolas se reinventem de maneira a se constituir como espaços de acolhimento, de respeito e valorização da diversidade. Dito de outra maneira, é urgente que assumam uma postura e uma prática cotidiana antirracista.
Afinal, como disse a célebre filósofa e ativista social norte-americana, Angela Davis:
“Numa sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”.
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